Marcos Fava Neves / Marcos Fava Neves

Daniel Bocca Mancini / Caíque Reis Fontão

Milho: 21,5 milhões de toneladas a menos na safra 2020/21!

Iniciamos nosso boletim destacando a estimativa de agosto da safra brasileira, divulgada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Segundo o relatório, o milho safrinha deve apresentar redução em sua produção de 19,3%, totalizando 60,3 milhões de t colhidas, enquanto em julho eram esperadas quase 70 milhões de t. No total entre 1ª, 2ª e 3ª safras, a produção de milho deve ficar em torno de 86,6 milhões de t; 21,5 milhões a menos que a estimativa de março, onde a Conab sinalizava uma produção de mais de 108 milhões de t.

Mesmo com a quebra no milho, a produção brasileira de grãos deve ter aumento de 1,2% no ciclo 2020/21 em relação ao passado, alcançando o volume de 254 milhões de t. No entanto, vale ressaltar que, em comparação à previsão de julho, o volume foi reduzido em 6,8 milhões de t, devido as consequências da seca e das geadas na região Centro-Sul do país. Para outros grãos, as estimativas fecharam nos seguintes números: trigo deve entregar 8,59 milhões de t (+37,8%); a soja está avaliada em 136 milhões de t (+8,9%); e o algodão em pluma deve fechar em torno de 2,34 milhões de t (-22,0%).

No mercado internacional, o relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reajustou a produção de milho da safra 2021/22 para 1.186,12 bilhão de t (-0,7% que no mês anterior) e os estoques para 284,63 milhões de t (-2,2%). Com isso, a produção global de milho na safra 2021/22 passa a ser 6,3% superior à do ciclo passado, enquanto que os estoques serão apenas 1,4% maiores que a safra 2020/21. No Brasil, o USDA estima a produção em 118 milhões de t (35,6%) e na Argentina em 51 milhões de t (+5,2%), mantendo as projeções do mês anterior. Na soja, as estimativas para o cenário global são de 383,6 milhões de t, com estoques em 96,15 milhões de t. O Brasil deve produzir 37,5% deste total (144 milhões de t) e a Argentina cerca de 13,6% (52 milhões de t).

No âmbito econômico, o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) revisou para cima o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) no mês de julho, de R$ 1,099 trilhão para R$ 1,109 trilhão, o que representa um incremento de 12,8% frente a 2020. Entretanto, o VBP do milho foi reduzido em 1,9%, ou R$ 2,56 bilhões, para R$ 128,9 bilhões; ainda assim, a renda com o milho deve ser 11,8% maior que a de 2020.

Nas exportações de julho, os embarques do agronegócio brasileiro atingiram valor recorde – mais uma vez – para o mês, totalizando US$ 11,29 bilhões, 15,8% a mais que os valores constatados no mesmo mês de 2020, de acordo com dados também do Mapa. Entre os 5 produtos mais exportados, temos: o complexo soja liderou, com valor recorde para o mês de US$ 5,01 bilhões (+21,6%), com destaque para a soja em grão, que representou 78% do valor; na segunda colocação aparece as carnes, que também somaram valor recorde, de US$ 2,03 bilhões (+34,9); em seguida estão os produtos florestais, totalizando embarques de US$ 1,30 bilhão (+41,4%); na quarta posição temos o complexo sucroenergético, que embarcou US$ 930 milhões (-10,5%); e fechando o top 5, temos o setor de farinhas e preparações, que somou vendas externas de US$ 469,08 milhões (-37,5%), sendo o milho responsável por 85% desse montante. Ao final do mês, o agronegócio entregou um saldo positivo de US$ 10,05 bilhões, 14,68% maior que no mesmo período do ano de 2020.

No campo, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a colheita do milho safrinha no Brasil alcançou 68,5% da área total, avanço de sete pontos percentuais na última semana; há um ano, o progresso era de 76,6%.

Nos três maiores estados produtores de milho no Brasil, o progresso é o seguinte: no Mato Grosso, maior produtor, 98,1% das áreas já foram colhidas, contra 99,5% da safra passada; no segundo colocado, o Paraná, a situação é um pouco mais crítica, onde apenas 22,0% foram colhidos até o momento, frente à 55,0% no mesmo período do ano passado; e por fim, em Goiás, cerca de 75,0% do milho já foi colhido, contra 82,0% na mesma data de 2020.

Falando no estado do Paraná, que foi um dos mais afetados pela estiagem e pelas geadas neste ciclo, estima-se que a quebra na produção do milho safrinha seja de quase 60%. Por conta disso, diversos produtores tem se movimentado para importar milho de países como Argentina e Paraguai – ou até mesmo de outras regiões do Brasil – a fim de atender a demanda da produção animal no estado.

Na mesma linha, no final de julho, a JBS confirmou a compra de 30 navios de milho da Argentina, volume que responde por 25% do total de milho consumido pelas cadeias da pecuária (aves e suínos) para produção da marca Seara (do grupo JBS).

A alta na safra argentina de milho gerou preços competitivos que possibilitaram o suprimento do cereal no momento de quebra da safra brasileira, segundo a organização.

Ainda em relação às importações de milho, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o Brasil deve ampliar as compras externas do grão em 76,5% para atendar as demandas da indústria de produção animal, chegando a 2,42 milhões de toneladas. A estratégia de importação visa reequilibrar os preços do milho no mercado doméstico e trazer alento ao setor de proteínas, pressionado pelas altas cotações do cereal.

Também com objetivo de aliviar o preço do grão, na última semana, o governo federal autorizou a compra de 200 mil t de milho, pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), para venda aos agricultores. A medida foi idealizada em prol dos pequenos criadores de animais, que tem encontrado dificuldade para aquisição do milho, em função dos preços elevados e baixa disponibilidade no mercado. O cereal será disponibilizado aos produtores por meio do Programa de Venda em Balcão (ProVB).

No segmento de biocombustíveis, o boletim de acompanhamento da safra no Centro-Sul, divulgado pela UNICA (União das Indústrias de Cana de Açúcar), indicou uma produção de 127,52 milhões de litros do etanol de milho na primeira quinzena de julho, 5,6% do total do biocombustível produzido no período. Desde o início da safra, a região Centro-Sul já produziu 14,11 bilhões de litros de etanol, sendo que 981,16 milhões de litros (6,95%) correspondem ao produzido com o milho.

E por falar em etanol de milho, a Unem (União Nacional do Etanol de Milho) ampliou em 170 milhões de litros a estimativa da produção do biocombustível no Brasil na safra 2021/22. Com isso, o total produzido deve ser de 3,4 bilhões de litros, aumento de 28,3% em relação ao ciclo passado. Entre os fatores que justificam a revisão dos cálculos estão os anúncios de novos investimentos no setor.

Um dos anúncios recentes foi feito pela CerradinhoBio, que confirmou investimentos de cerca de R$ 1 bilhão na construção de uma segunda usina para produção do etanol de milho no país.

O grupo, que já tem uma unidade do modelo “flex” em Chapadão do Céu (GO), planeja instalar sua segunda unidade em Maracaju, o maior município produtor de milho do estado do Mato Grosso do Sul. A unidade terá capacidade para moagem de 1,1 milhão de t de milho por ano, e de produção de até 510 milhões de litros do etanol. Quando o projeto for concluído, as duas unidades da Neomille (empresa de produção de etanol de milho do grupo CerradinhoBio), terá capacidade total de produzir até 840 milhões de litros de etanol por ano.

Ao término desta coluna, no dia 19 de agosto, o preço do milho no Indicador ESALQ/B3 estava em R$ 99,02/saca, contra R$ 97,48/saca no mesmo período do mês anterior, evidenciando crescimento de 1,6% no comparativo mensal; na mesma data de 2020, o milho estava cotado em R$ 58,64/saca, 40,7% menor que o preço atual. Por fim, segundo relatório da Scot Consultoria para a primeira quinzena de agosto, os preços médios do DDG (MT e GO) estavam em R$ 1.704,34/tonelada, cerca de 70,4% maior que a mesma quinzena de 2020.

Os cinco fatos do milho e do agro para acompanhar diariamente em agosto/setembro são:

  1. A finalização da colheita de milho safrinha no Brasil e a consolidação dos resultados de produtividade e impactos dos eventos climáticos na safra em encerramento.
  2. O suprimento de milho no mercado interno, com destaque para o aumento nas importações em prol do alívio nos preços do cereal.
  3. O desempenho das lavouras nos Estados Unidos. Recentemente, o USDA reduziu as condições boas/excelentes das lavouras de milho de 64% para 62%; há um ano, o percentual era de 69%.
  4. A evolução do clima e dos custos para o plantio da mega safra 2021/22, e as decisões de compra e venda;
  5. A crise institucional (política), o câmbio e as perspectivas econômicas com a aceleração da vacinação.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto) e da EAESP/FGV, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

Vinícius Cambaúva é Engenheiro Agrônomo e Consultor Associado na Markestrat Group.

Daniel Bocca Mancini e Caíque Reis Fontão são Estagiários na Markestrat Group.

Análises e conjunturas

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