Edição 09 – Agosto
Marcos Fava Neves
Vinícius Cambaúva
Beatriz Papa Casagrande
Mais de US$ 1 bilhão em exportações da carne bovina em julho!
Iniciamos nossa coluna mensal com destaque para o desempenho exportador do agro brasileiro em julho: novo valor recorde para o mês, totalizando US$ 11,29 bilhões, 15,8% a mais que os valores registrados no mesmo mês de 2020, de acordo com dados do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Entre os 5 produtos mais exportados, temos: o complexo soja liderou, com valor recorde para o mês de US$ 5,01 bilhões (+21,6%), com destaque para a soja em grão, que representou 78% do valor; na segunda colocação aparecem as carnes, que também somaram valor recorde, de US$ 2,03 bilhões (+34,9); em seguida estão os produtos florestais, totalizando embarques de US$ 1,30 bilhão (+41,4%); na quarta posição temos o complexo sucroenergético, que embarcou US$ 930 milhões (-10,5%); e fechando o top 5, temos o setor de farinhas e preparações, que somou vendas externas de US$ 469,08 milhões (-37,5%). Ao final do mês, o agronegócio entregou um saldo positivo de US$ 10,05 bilhões, 14,68% maior que no mesmo período do ano de 2020.
Nas cadeias da pecuária, o cenário para julho de 2021 foi o seguinte: a carne bovina exportou 191,09 mil toneladas (-1,5%), e gerou receitas de US$ 1.009,05 milhões (+30,0%); na carne de frango, o volume embarcado foi de 412,04 mil toneladas (+15,4%) e com arrecadações de US$ 723,96 milhões (+47,3%); e, por fim, a carne suína exportou 100,97 mil toneladas (+9,4%) e gerou receitas de US$ 224,28 milhões (+21,0%). No total, as três principais cadeias da pecuária de corte no Brasil exportaram 704,12 mil toneladas de carnes, aumento de 9,5% em relação ao mesmo mês de 2020; e geraram receita de US$ 1,98 bilhões, salto de 34,5% em comparação a julho do ano passado (Tabela 1).

Em relação aos preços médios para exportações, a carne bovina fechou em torno de US$ 5.280,35 por tonelada, seguida da carne suína com US$ 2.419,22 por tonelada e da carne de frango, que apresentou preços em US$ 2.419,22 por tonelada da proteína; a carne bovina segue sendo a fonte com maior valorização. Segundo dados da Secretária de Comércio Exterior (SECEX), entre junho de 2020 e julho de 2021, os preços da carne bovina exportada cresceram 33,0%. Já a média mensal da cotação do boi gordo cresceu 44,0% em termos nominais, no mesmo período, segundo o CEPEA/USP.
A valorização da carne bovina explica os resultados impressionantes nas receitas geradas para o mês de julho, o que deve se renovar em agosto. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), até a segunda semana do mês, os embarques somam US$ 562,29 milhões, com uma média diária de US$ 56,22 milhões, aumento de 80,5% em comparação com o mês de julho. Nos primeiros dez dias de agosto, pouco mais de 100 mil toneladas de carne bovina foram exportadas, alta de 30,7% no comparativo mensal.
Entre nossos principais compradores, a China segue na liderança, respondendo por 49% de todos os embarques brasileiros. Entre janeiro e julho, o país asiático importou 490 mil toneladas de carne bovina brasileira, alta de 8,5% em comparação com o mesmo período de 2020.Em termos de preço, o kg da proteína comprada pelos chineses em julho fechou com média de US$ 5,77, alta de 33,6% em um ano.
Ainda sobre a China, segundo o diretor-presidente da Marfrig, o comportamento de compra da carne bovina brasileira já se transformou em algo estrutural, e não mais conjuntural, e deve continuar em ritmo crescente nos próximos anos. Desde 2019, o país asiático tem ampliado suas compras de carne bovina, especialmente para suprir os gaps de oferta da carne suína no país, prejudicada por conta dos casos de Peste Suína Africana (PSA).
Outro país que tem ganhado destaque para nossos mercados é o Emirados Árabes. Entre janeiro e julho de 2021, o país gerou receitas de US$ 104 milhões, cerca de 2,4% do total de carne bovina embarcada pelo Brasil. No mesmo período, o país do Oriente Médio importou mais de 25 mil toneladas da proteína brasileira, crescimento de 15% em relação ao mesmo período de 2020.
Ainda no mercado internacional, uma surpresa: os Estados Unidos já exportam quase o mesmo volume que o Brasil de carne bovina e a tendência é que nos superem no curto prazo. Segundo dados do USDA, entre janeiro e maio, o país norte americano exportou 700,8 mil toneladas, crescimento de 10% em relação ao mesmo período de 2020; enquanto isso, o Brasil embarcou 735,8 mil toneladas, apenas 4,9% acima dos Estados Unidos, e 5% a menos que o mesmo período do ano passado. Por outro lado, em termos de receitas, os americanos já nos superaram; no mesmo período, foram US$ 4,64 bilhões deles contra US$ 3,51 bilhões do nosso país.
Ao contrário do Brasil, o posicionamento de exportador dos Estados Unidos tem como característica o aproveitamento do momento de valorização de seu produto no mercado internacional, e não apenas em vista de produção excedente. Esse comportamento nos ajuda a entender o que destacamos nas edições anteriores do boletim, onde o país norte-americano se tornou um dos principais compradores da carne brasileira (8% do total), ou seja, enquanto exportam um produto nobre e geram receitas maiores, estão comprando a proteína brasileira para suprir as demandas internas.
No elo da produção, as importações brasileiras de milho para atender principalmente a indústria de produção animal devem crescer 76,5%, chegando a 2,42 milhões de toneladas, segundo estimativas da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). A estratégia de importação visa reequilibrar os preços do cereal no mercado doméstico e trazer alento ao setor de proteínas, pressionado pelas altas cotações do milho.
No estado do Mato Grosso, principal produtor da carne bovina, a utilização dos frigoríficos fechou em 69,8% em julho, segundo o IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada), redução de 2,9% em comparação com o mês de junho. Entre janeiro e julho deste ano, a utilização dos frigoríficos ficou em 71,93%, o menor valor da série histórica do IMEA. Segundo o instituto, o resultado é comportamento da maior retenção das fêmeas nos últimos anos e da menor oferta de animais para abate, em função do rebanho menor neste ciclo.
Na Argentina, a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes (CICCRA) reportou que as exportações da proteína bovina foram de 35 mil toneladas em junho, queda de 29,3%. O baixo desempenho é resultado das medidas do governo argentino, que restringiu os embarques de alimentos para conter o avanço nos preços.
Por fim, na conclusão desta coluna (26/08), os preços do agro pelas cotações do CEPEA/USP, fechavam nos seguintes valores: a arroba do boi gordo em São Paulo era cotada em pouco mais de R$ 312/arroba; o bezerro, no Mato Grosso do Sul, estava em R$ 2.782/cabeça; o indicador soja Paranaguá, estava em torno de R$ 171/saca; e no milho, a cotação atual era de R$ 97/saca. Além disso, cálculos da Markestrat Agribusiness indicam que a relação de troca entre @ do boi gordo e a saca do milho (60 kg) estava em 3,18, o segundo menor valor do ano, atrás apenas do mês de maio.
Os cinco fatos da pecuária e do agro para acompanhar diariamente em setembro são:
- Consumo interno da carne bovina com a recuperação econômica e melhores preços no varejo. A tendência é de leve recuperação na demanda local.
- Crise logística internacional com a falta de contêineres e dificuldades no agendamento de navios para transporte da carne bovina refrigerada, o que pode afetar diretamente nosso desempenho exportador.
- Evolução nos custos de produção da pecuária, especialmente com novas altas no preço do milho. Calcular a relação de troca com frequência é algo essencial.
- Monitoramento da economia nacional e global: câmbio, decisões de compra/venda de insumos, além da crise institucional; maior gestão para tomada de decisão.
- Exportações de carne bovina dos Estados Unidos para Europa, Coreia do Sul, Japão e até mesmo a China, podendo limitar as oportunidades do mercado brasileiro.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Vinícius Cambaúva é Associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.
Beatriz Papa Casagrande é estagiária na Markestrat Group e graduanda em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP em Piracicaba – SP.
*Este conteúdo é parte integrante do projeto Carne do Bem, uma iniciativa da Cargill/Nutron, e que conta com a participação da Markestrat Group. Nosso agradecimento a todos os envolvidos nesse importante movimento de promoção da carne bovina no Brasil.
