Reflexões dos fatos e números da cana em maio e o que acompanhar em junho

Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Vinicius Cambaúva e Vitor Nardini Marques

Na cana, o primeiro mês da safra 2023/24 na região Centro-Sul fechou bastante produtivo. Foram 34,8 milhões de t de cana-de-açúcar moídas (+ 18,8%) contra 29,3 milhões de t no mesmo período do ano passado, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica). Ainda assim, vale destacar que a 2ª quinzena do mês registrou um grande volume de chuvas que inviabilizou as operações de colheita em algumas regiões.

Segundo a Unica, as usinas da região Centro-Sul perderam até 10 dias de colheita em abril em função das chuvas. Somado a isso, a chance de El Niño no 2° semestre é um grande ponto de atenção que pode novamente levar ao alongamento da safra, além de prejudicar a qualidade da cana. Ao término de abril, 209 usinas estavam em operação na região (eram 184 no mesmo período do ano passado), sendo 197 unidades para processamento de cana, 7 exclusivas para fabricação do etanol de milho e outras 5 usinas “flex” (que produzem etanol tanto com a cana como com o milho).

Em relação ao teor de ATR (Açúcar Total Recuperável) na cana, a 2ª quinzena de abril registrou melhora no indicador com 112,79 kg por t (+ 2,34%). Já abril fechou com 110,88 kg de ATR por t de cana-de-açúcar, alta de 2,5% em relação ao mesmo mês de 2022.

No mercado de CBios, dados da Bolsa de Valores Brasileira (B3) indicam que até o dia 09 de maio, 10,93 milhões de CBios foram emitidos. No contexto do programa RenovaBio, 44,30 milhões de créditos de descarbonização haviam sido adquiridos pela parte obrigada no programa até a data em questão. Vale lembrar que esse valor representa o estoque de passagem em 2021, mais os créditos adquiridos em 2022 e 2023, considerando a postergação do prazo vigente no programa.

No açúcar, a produção do adoçante em abril somou 1,53 milhão de t, alta de 43,65% em comparação ao mesmo período de 2022/23, quando foram produzidas 1,07 milhão de t, segundo a Unica.

Já as exportações de açúcar fecharam abril em queda, quando comparado ao mesmo mês de 2022. Foram US$ 458,3 milhões (-9,7%) e 969 mil t (-26,2%). A queda no faturamento tem relação direta com a baixa nos volumes embarcados; foram 344 mil t do adoçante a menos. No entanto, no acumulado de 2023 (janeiro a abril), os volumes estão maiores do que em 2022 e somam 5,96 milhões de t (+ 2,4%), enquanto as receitas totalizam US$ 2,70 bilhões (+19,8%). Os dados foram compilados pelo Mapa.

E com as preocupações relacionadas a quebra de safra na Ásia, bem como a maior chance de ocorrência do El Niño no Brasil, os preços do açúcar seguem comportamento de alta:

  • No fechamento da nossa coluna, o bruto em Nova York para julho/23 estava cotado em 26,29 centavos de dólar por libra-peso; enquanto que o de outubro/23 estava em 25,95 cts/lb.
  • Em Londres, o crescimento também veio: contratos de julho/23 fecharam em US$ 717 a t; enquanto que para outubro/23 estava em US$ 707/t.
  • No Brasil, o açúcar cristal branco em São Paulo (Cepea/Esalq) estava em R$ 134,59/sc (60kg) há 30 dias e foi a R$ 149,09/sc na data de fechamento da nossa coluna (16/05), alta de 10,8%.

No etanol, abril registrou produção de 1,76 bilhão de litros do biocombustível, alta de 17,45% na comparação com abril passado. Destes, 1,12 bilhão de litros ou 63,6% correspondem ao hidratado (-10,42%), enquanto o anidro mais que dobrou, com 634,40 milhões de litros produzidos (+ 161,2%). Ainda de acordo com a Unica, 24,6% do total fabricado (ou 432,3 milhões de litros) teve o milho como matéria-prima, alta de 53,8% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.

Já em relação às vendas, foram comercializados 2,08 bilhões de litros de etanol em abril, queda de 6,0%, sendo que 93,75% foram vendidos no mercado doméstico e 6,25% destinados à exportação.

Em relação às vendas domésticas, 1,12 bilhão de litros do hidratado foram comercializados pelas usinas com as distribuidoras em abril, queda de 18,5%; e do anidro, foram 833,8 milhões de litros, alta de 13,8%. Já no mercado externo, foram vendidos 90,76 milhões de litros do hidratado (+ 143,52%) e 36,48 milhões de litros do anidro (+47,7%). Os dados foram também compilados pela Unica.

Por fim, em relação aos preços, o Indicador Semanal do Hidratado Combustível em São Paulo (Cepea/Esalq) estava em R$ 2,6373/litro em 12 de maio. Há um mês, os preços eram de R$ 2,8953/l, ou seja, está aproximadamente 26 centavos de real mais barato ou 8,9% a menos. Vale lembrar que na semana de 20 de abril, os preços chegaram a R$ 3,0917/l. O início da safra na região Centro-Sul, que ampliou a oferta do biocombustível, é o principal fator que explica o comportamento de baixa.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em junho na cadeia da cana:

  1. Observar o clima na região Centro-Sul neste próximo mês, especialmente o regime de chuvas, buscando compreender os impactos nas operações de colheita e andamento da moagem.
  2. A nova política de preços da Petrobras, como deve afetar o setor.
  3. Resultados de produtividade e qualidade da matéria-prima neste início de safra. Com as novas lavouras sendo colhidas, estes indicadores serão decisivos para compreender o que pode acontecer com os preços do ATR, bem como com os resultados agrícolas e industriais.
  4. Vendas de etanol pelas usinas, bem como o consumo do hidratado nos postos de combustível. Com o início da safra e maior oferta do biocombustível, o que tem amenizado os preços, é importante acompanhar como será a decisão de compra do consumidor, especialmente considerando a política de preços do novo governo, que já prevê redução de preços da gasolina.
  5. Por fim, no açúcar, vamos observar como os preços elevados no mercado internacional tem impactado na decisão do mix de produção das usinas no Brasil, bem como continuar de olho nos importantes players globais: Índia, Tailândia, China e outros.

Valor do ATR: no 1° mês da safra 2023/24, o valor mensal do ATR (Açúcar Total Recuperável) fechou em R$ 1,2129/kg, alta de 0,9% em relação a média mensal de março, último mês da safra anterior. Vale aqui recordar que nos 3 meses anteriores (janeiro, fevereiro e março), o ATR mensal ficou em R$ 1,1562/kg, R$ 1,1792/kg e R$ 1,2019/kg, respectivamente. Também lembrando que a média de 2022/23 (acumulado) ficou em R$ 1,1707/kg. Nossa expectativa, até o momento, é de que fechem entre R$ 1,17/kg e R$ 1,20/kg no ciclo atual. Vamos acompanhar!

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com  e no canal do Youtube.

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em comunicação estratégica no agronegócio.

Vitor Nardini Marques é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Análises e conjunturas

boletim cana 30

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