O Que Observar em Abril?
Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Vamos ao resumo dos principais fatos do agronegócio deste mês de março, começando com uma volta ao passado para nos contaminar de orgulho. Nossa produção de grãos, quando se analisa o período de 1975 até 2017 pulou de pouco mais de 40 milhões de toneladas para quase 240 milhões. A produtividade cresceu 3,43% ao ano, graças à abertura comercial, tecnologia, mecanização, educação, profissionalização, crédito, pesquisa, empreendedorismo, diversificação da produção e integração de lavouras.
Neste mesmo período as carnes tiveram incrível salto: frango foi de 370 mil para 13,5 milhões de toneladas, suínos de 500 mil para quase 4 milhões, e bovina de 1,8 para 7,7 milhões de toneladas. Falando do presente, a estimativa de produção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está agora em 233,3 milhões de toneladas, acima da safra 2017/18 (227,7 milhões de toneladas) mas praticamente 1 milhão de toneladas abaixo da estimativa de fevereiro. O tombo principal foi na soja, onde eram esperadas 120 milhões de toneladas e devemos ter 113,5 milhões (safra passada foi de 119,3 milhões). Na soja temos colheita quase finalizada, passando de 80%, e os riscos do clima caíram bastante. O risco agora mais forte é a segunda safra principalmente no milho, que a Conab estima em quase 93 milhões de toneladas, que seria a segunda maior da nossa história. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados) soltou no final do mês as expectativas de plantio para 2019/20. Para o milho espera-se uma área 4% maior totalizando 37,56 milhões de hectares e os estoques são de 218,4 milhões de toneladas (caíram 3% em um mês, mas estão acima do que previam analistas em mais de 6 milhões de toneladas). Já na soja a queda deve ser de 5% na área plantada, totalizando 34,24 milhões de hectares.
Mas como os estoques estão muito altos (quase 74 milhões de toneladas e 30% maiores que na mesma data do ano passado), este número não alterou o preço. Para o trigo esperam plantar 4% a menos, total de 18,54 milhões de hectares (estoques também muito altos), bem como 2% menor no algodão, com 18,54 milhões de hectares. A principal boa notícia é a área menor de soja, mas com pouco efeito imediato.
Os estoques de grãos no mundo estão em patamar muito confortável, o que força a permanência dos preços provavelmente nos níveis atuais. Pelo USDA no milho ao final da safra 2018/19 (agosto deste ano) os estoques estarão acima de 27% da necessidade de demanda anual (caindo de 31,4% na safra anterior). Na soja, estoque estará próximo a 30% do que será necessário em um ano. Portanto em preços, se nenhum fato novo aparecer, é estabilidade pela frente.
Desde o início de 2019, exportamos 10,6 milhões de toneladas somando soja, farelo e óleo, quase 50% a mais que o mesmo período de 2018, trazendo US$ 3,9 bilhões, que representa 44,4% a mais. Os preços estão cerca de 3% menores. A China comprou quase 33% de tudo o que foi exportado, um total de US$ 2,3 bilhões, 77,2% a mais que fevereiro de 2018. Mesmo importando 18% a menos de soja em fevereiro, do Brasil a China comprou mais de 5 milhões de toneladas, 134% a mais que fevereiro de 2018. Nos dois primeiros meses do ano vendemos 7 milhões de toneladas, o dobro das quase 3,5 milhões de 2018. Com isto entraram no Brasil US$ 2,5 bilhões, quase o dobro também dos US$ 1,3 bilhão de Efeitos dos problemas com os EUA.
O “quinteto mágico” a ser observado nos próximos 30 dias: 1) a chuva sobre o milho; 2) andamento das negociações China x EUA; 3) os impactos da peste suína africana na produção e importações chinesas de carnes; 4) o binômio preços do petróleo e adição de mais etanol de milho na gasolina dos EUA; e 5) o andamento das reformas, com impactos na taxa de câmbio e os devaneios tributários sobre o agronegócio.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com
Fonte: Revista Copercampos www.copercampos.com.br